Texto: Rogério Romero
Rômulo Duncan Arantes Junior, filho de Rômulo Duncan Arantes, pai de Rômulo Arantes Neto, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 12 de junho de 1957 e morreu num acidente de ultraleve na pequena Maripá de Minas, MG em 10 de junho de 2000, a dois dias de completar 43 anos.
O atleta flamenguista, galã, vaidoso, ficou mais conhecido do público em geral pelo mundo das artes, atuando inclusive em novelas globais, mas vamos nos ater às suas conquistas dentro das piscinas.
Primeiro foi sua marca dentro da natação. Participou do primeiro Mundial. Primeira Copa Latina. Foi um dos primeiros a ir aos EUA, onde foi o primeiro ouro brasileiro no NCAA. Primeiro medalhista em mundiais. Primeiro ouro em Universíades. De quebra, participou do primeiro Mundial master e venceu os 50, 100 e 200m costas!
Foi nos 100m costas, prova em que se manteve recordista continental por mais de 19 anos (1972-1991) e abaixaria por 13 vezes até chegar no mítico 57.20 de 1979, 3ª. melhor marca mundial daquele ano, que chegou às suas maiores conquistas. Ainda foi detentor do recorde sul-americano dos 200m costas por quase 5 anos, abaixando o seu tempo de 1973 mais três vezes.
Seu início se deu aos 8 anos, no Clube de Regatas do Flamengo, onde sob a tutela de seu pai, seu Arantes, um dos treinadores de maior sucesso no clube e mais rígidos, desenvolveu seu talento. Mas ambos não concordavam sempre e o embate se tornava previsível.Precoce como seria também Ricardo Prado, participou de sua primeira olimpíada em Munique 1972 com apenas 15 anos, e já deixou sua marca com recorde sul-americano nos 100m costas (1:01.87), com a quinta colocação do revezamento medley e ainda nadou os 200m costas (2:18.15).
Mas foi por outra característica, mencionada pelos seus contemporâneos Marcus Mattioli e Djan Madruga, que ficou famoso na borda das piscinas: personalidade forte.
Impossível falar de Munique/72 sem mencionar Mark Spitz e suas 7 conquistas com recordes mundiais, que deve ter influenciado uma geração, até no seu look. Nota-se que o bigode marcou época, mas além disso, Rômulo realmente parecia com o maior nadador da época, deixando seu corte de cabelo semelhante ao ídolo. Por fim, ambos treinaram na mesma universidade, com o mesmo treinador.
No ano seguinte, participou da estreia de uma nova competição, a Copa Latina, disputada, por óbvio, por países latinos. Em abril de 1973 o Rio de Janeiro, com o apoio da Confederação Brasileira de Desportos recebeu a edição inaugural. Nela, o garoto de 16 anos já sentiria o gosto do topo do pódio internacional, vencendo os 100m costas (1:01.13) e ficando em segundo nos 200m costas (2:12.23). [i]
No mesmo ano foi para a edição inaugural do Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, em Belgrado, na Iugoslávia. Acabou em sétimo lugar nos 100m costas e abaixou seu recorde sul-americano com 1:00.17. Nos 200 metros costas, não se classificou para a final, mas também bateu o recorde sul-americano, com a marca de 2m12s98. [ii]
Na terceira edição da Copa Latina, em Las Palmas na Espanha em 1975, mostrou sua versatilidade, vencendo os 200m medley (2:12.02), próximo ao recorde sul-americano de 2:11.53, com mais de 3s de vantagem e os 100m borboleta (57.8), então recorde brasileiro. No mesmo dia dos 100m borboleta, voltou para as piscinas e chegou próximo do seu recorde sul-americano (58.7 x 58.61) com uma fácil vitória, chegando mais de 2s à frente do segundo colocado Conrad Porta.
Nos Jogos Pan Americanos da Cidade do México de 1975, saiu com três bronzes, nos 100m costas (59.16) e nos revezamentos 4x100m medley e 4x200m livre. Ficou ainda em 4º. nos 200m costas.
Apesar de ser conhecido como costista, Rominho foi muito bom em todos os estilos. [iii]
Na sua segunda participação olímpica, em Montreal 1976, nadou os 100 (58.49 nas semifinais), empatando seu recorde sul-americano com 58.46 nas eliminatórias. Nadou ainda os 200m costas (2:07.38, seu último recorde sul-americano nesta prova) e os 100m borboleta (58.80), mas não passou das eliminatórias. Sua expectativa de chegar à final olímpica não foi alcançada.
Foi treinar e estudar nos Estados Unidos, primeiro na high school e depois, com outra estrela brasileira e também condecorado aqui no HFNB, Djan Madruga, onde acabou se formando em Marketing e Mercadologia na Universidade de Indiana e treinar com o famoso Doc Counsilman. Lá, tornou-se o primeiro brasileiro campeão do NCAA, em 1977, ao abrir o revezamento 4x100m medley.
Neste mesmo ano, foi para Sofia na Bulgária e conquistou o único ouro da delegação brasileira nos 100m costas (58.45) durante a Universíade.
Rômulo foi o primeiro medalhista brasileiro em mundiais, mais um feito histórico. No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 1978, realizado em Berlim, na Alemanha Ocidental, ele obteve a medalha de bronze na prova dos 100 metros costas, com a marca de 58s01, novamente abaixando seu recorde continental.
Mas essa medalha teve uma história. Na verdade, ele acabou em quinto, mas o neo-zelandês Gary Hurring (57.83), que chegou em quarto, foi desclassificado por virada irregular. O brasileiro ainda teve que esperar mais alguns dias, quando já de volta aos Estados Unidos, seu pai ligou falando sobre a desclassificação do soviético Viktor Kuznetsov (57.41), que caiu no antidoping, elevando Rômulo para a terceira colocação. O nadador inclusive já estava falando em parar de nadar, mas o resultado e a medalha deram o ânimo para completar o ciclo olímpico.
E o rumo parecia ser o certo, uma vez que sua prata nos Jogos Pan Americanos de San Juan em 1979 nos 100m costas (57.20) o colocou em 3º. no ranking mundial a um ano dos Jogos Olímpicos de Moscou e a sexta marca da história. Ainda em San Juan, ficou com o bronze no revezamento 4x100m livre, outro recorde sul-americano.
Ainda em 1979, foi para sua segunda Universíades e ficou com a prata nos 100m costas (58.10). [iv]
“Vou ganhar a olimpíada”: sua declaração na revista Placar da época poderia soar atrevida. Mas, ele realmente tinha chances, ao menos do pódio
Mas o ano olímpico não seria fácil. Convocado para o campeonato sul-americano, pediu dispensa porque a data coincidia com os campeonatos universitários americanos, onde treinava pela Universidade de Indiana. Uma briga pública com a então Confederação Brasileira de Natação através do seu presidente, Ruben Dinard de Araújo, e Rômulo, disparando que não era compreendido que deveria priorizar os treinamentos para os Jogos de Moscou, enquanto do outro lado mencionava os apoios (financeiro e passagens) que o atleta tinha da CBN e COB.
Logo depois, outro imbróglio com a não convocação direta para a Copa Latina de Madri. Rômulo acabou sendo convocado e venceu sua especialidade, os 100m costas (58.29) com facilidade.
Chegou confiante em Moscou, com mais técnica e experiência que os Jogos de Montreal. Com seu talismã, um pequeno brinco de ouro, o atleta brasileiro sabia que o boicote havia retirado do páreo os favoritos americanos, entre eles o recordista mundial John Naber, e por isso mesmo declarava que estaria no pódio.
Porém, após passar para as semifinais em terceiro, para decepção de todos, acabou ficando fora da grande final por apenas 16 centésimos e tendo que se contentar em ver que sua marca no ano anterior lhe daria um bronze olímpico. Finalizou em 11º. “Foi o destino. Não estava escrito que eu seria campeão olímpico. A torcida que me perdoe. ”, declarou após sair do vestiário, sem se esquivar da imprensa.
Os tempos muito próximos nas 4 vezes que nadou os 100m costas na capital soviética, 57.90 e 58.21 na prova e 58.27 e 57.99 no revezamento medley que ficou em oitavo, demonstram que o limite dele na sua terceira e última olimpíada era este mesmo. Já havia saído de Moscou quando a prova dos 200m costas em que estava inscrito foi disputada.
Em 1981 ele ainda teria dois pódios internacionais, na Copa Latina (58.76), vencendo os 100m costas e nas Universíades em Bucareste, com dois bronzes nos 100m costas (58.24) e 4x100m medley.
Em 1983, em uma bonita homenagem no simbólico Parque Aquático Júlio Delamare, Rômulo Arantes Junior abandonou as piscinas (ao menos oficialmente) após “sua prova” dos 100m costas, foi homenageado pela Confederação Brasileira de Natação e aplaudido pelo público presente.
Participou ainda do primeiro Mundial Master em Tóquio 1986, onde venceu todas as provas de costas com certa facilidade (27.39, 59.00 e 2:13.56).
Além de ajudar popularizar a natação pelos seus feitos dentro das piscinas, ele não parou a contribuição ao ter uma academia da família criando uma franquia de escolinhas de natação (seria o primeiro, novamente, a fazer isso?). Depois atuando na telinha, algumas vezes como nadador.
Por fim, virou nome de competição e Ginásio de Esportes.
O programa Vídeo Show, da Rede Globo, fez uma homenagem ao ator, recapitulando sua carreira artística:
Por toda esta sua contribuição para a natação nacional, pelo seu pioneirismo em medalhas internacionais, incluindo uma em Mundial, reconhecemos Rômulo Duncan Arantes Junior no Hall da Fama da Natação Brasileira.
Referências:
[i] http://memorialromuloarantes.blogspot.com/
[ii] https://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%B4mulo_Arantes
[iii] http://historiadelanatacionencanarias.blogspot.com/2018/05/de-cuando-la-copa-latina-visito-las.html
[iv] Revista Nado Livre Nov Dez 1979
[v] https://www.sports-reference.com/olympics/athletes/ar/romulo-arantes-filho-1.html
[vi] https://www.bestswim.com.br/2017/06/12/romulo-arantes-junior-faria-60-anos-hoje/
[vii] http://www.aquatica.org.br/event/8a-etapa-do-circuito-carioca-celebridades-mirim-e-petiz-de-natacao-iii-trofeu-romulo-arantes-junior/
[viii] https://www.facebook.com/pages/Gin%C3%A1sio-Municipal-de-Esportes-R%C3%B4mulo-Duncan-Arantes-Junior/643407645714939
[ix] https://epichurus.com/2012/12/10/romulo-1979-borges-1990-e-os-objetivos/
[x] https://swimchannel.net/destaque-recordes/as-10-melhores-provas-do-brasil-em-mundiais/
[xi] https://www.ativo.com/natacao/noticias-natacao/a-historia-do-mundial-master/
[xii] Libro de Oro de la Natacion Sudamericana 1929-1979
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