Fernando de Queiroz Scherer, também conhecido como Xuxa, em função das madeixas loiras que ostentava na época de maior popularidade da apresentadora de TV, é um mentor e palestrante em alta performance com foco em saúde mental. No momento em que esse texto é escrito, Fernando tem 587mil seguidores no Instagram (@xuxanatacao), onde posta vídeos que falam de paz, de silêncio, de acreditar em si mesmo e ministra palestras com esses temas
Mas como esses temas se relacionam com um dos maiores nadadores da história da natação brasileira? Em um vídeo postado no dia 07-10-2023, Xuxa decifrou a xarada. Abre aspas:
“Muitas pessoas acham que quando entram nesse processo espiritual, ou de autoconhecimento, que eles precisam abandonar sua história.
Renegar sua história.
Cara, é ao contrário!
E eu fiz isso. Eu quis abandonar o nadador. Quis sair. O nadador não!
Cara, é o nadador que me trouxe aqui. É o nadador que me deu todos os ensinamentos.
É a história da vida. Não dá, não faz sentido algum!
Então honre cada história da tua vida,
E é isso que eu vejo hoje.
Honre a tua história. “
Obrigado por honrar sua história na natação, Fernando Scherer, porque é maravilhosa, e vamos dela fazer um breve resumo. A história de Xuxa como nadador adulto começa em janeiro de 1992.
Em seu primeiro brasileiro absoluto, no Troféu Brasil do início de 1992, mais precisamente no dia 15-01-1992, Xuxa marca o tempo de 24.21 nos 50m Livre, ficando em quinto lugar, nada mau para um garoto de 17 anos que estreava em Troféu Brasil.
O talento chamou a atenção de muita gente, mas ninguém seria capaz de prever que em maio (28-05-1992) ele faria 23.45 e em 21-06-1992 ele faria 23.31, um tempo que era apenas um centésimo acima do índice olímpico estipulado pelo Brasil. Xuxa não foi aos Jogos Olímpicos de Barcelona, mas Atlanta era logo ali.
Entre esses dois Jogos Olímpicos, Fernando Scherer colecionou vitórias no Brasil e no Mundo, nos 50m, 100m e 4x100m Livre. Dentre elas podemos citar cinco medalhas em mundiais de curta (4 de ouro), dois recordes mundiais de revezamento 4x100m Livre em raia curta, 4 medalhas no Pan de Mar Del Plata (incluindo o ouro dos 50m Livre, três medalhas (duas de ouro) nas Universíades de Fukuoka 1995 e o bronze no mundial de longa de Roma 1994 no 4x100m Livre.
Em Atlanta 1996, quando chegou o dia da sua melhor prova, os 50m Livre, Scherer já tinha um quinto lugar nos 100m Livre e doloroso um quarto lugar no 4x100m Livre. Só faltava a medalha. Nas eliminatórias, o empate triplo em sétimo entre Scherer, o Venezuelano Francisco Sánchez e o alemão Bengt Ziarsky, e anúncio de desempate para classificar dois e eliminar um. No desempate, ao meio-dia, Scherer bateu na frente e foi para a raia 1, sétimo tempo, deixando o venezuelano com a raia 8 e o alemão na série B.
Na final, Scherer conseguiu uma boa saída e disparou da raia 1 para o bronze, atrás apenas de Popov e Gary Hall Jr, conquistando com 22.29 sua primeira medalha olímpica, apenas três centésimos atrás da prata de Gary Hall.
Em 1997 Scherer passou por problemas físicos, que inclusive atrapalharam a sua preparação para o Mundial de Longa de 1998, que ocorreu em janeiro daquele ano na Austrália. Scherer ficou em oitavo nos 50m Livre e sexto no 4x100m Livre, e passou bem longe dos seus melhores tempos. Mudou-se para os Estados Unidos, recuperou-se durante a temporada e atingiu o auge em agosto, durante a disputa do Goodwill Games, em Nova York. Nessa competição, Fernando Scherer obteve os melhores tempos da sua vida. Nos 50m Livre, ganhou de Alexander Popov, fazendo 22.19 contra 22.27 do russo. E no revezamento 4x100m Livre ele abriu a prova com o melhor tempo da sua vida: 48.69.
Os tempos de 50m Livre e 100m Livre dessa competição foram ambos os primeiros do Ranking Mundial do ano de 1998, resultados que deram a Fernando Scherer o prêmio de melhor nadador do mundo pela FINA do ano de 1998. Os tempos de Scherer em Nova York, ambos recordes sul-americanos, só foram batidos muitos anos depois por um então jovem e promissor nadador chamado Cesar Cielo Filho em 2006 e 2007.
Seguindo a boa fase, bateu mais um recorde mundial no 4x100m Livre em piscina curta, e no ano seguinte (1999) ganhou quatro medalhas de ouro no Pan de Winnipeg, e chegamos aos Jogos Olímpicos de Sydney, onde apesar de não estar no auge da sua forma, abriu o revezamento 4x100m Livre com 49.79, ajudando o time a conquistar a medalha de bronze.
Foi a segunda medalha olímpica de Fernando Scherer, dois Jogos Olímpicos, duas medalhas, façanha para poucos. No Brasil, apenas três nadadores possuem mais do que uma medalha olímpica: Gustavo Borges, Cesar Cielo e Fernando Scherer.
Antes de terminar a carreira, Scherer ainda conquistaria mais dois ouros no Pan de
Santo Domingo em 2003, fechando a conta desta competição com 10 medalhas, sendo sete de ouro, duas de prata e uma de bronze, sendo (em 2023) o quinto maior medalhista brasileiro de todos os tempos na competição, apenas atrás dos nadadores Thiago Pereira e Gustavo Borges, e dos mesa-tenistas Hugo Hoyama e Cláudio Kano.
Corta para 2023 e aspas para o mentor e palestrante Fernando Scherer:
“Por muitos anos, eu não me via ou me aceitava sem uma medalha no peito.
Acreditava que esse era o único jeito de ser importante, de sentir o amor dos meus pais e do outro. Mas, ao longo da minha jornada, aprendi que o verdadeiro amor e valor vêm de dentro, não de conquistas externas. As medalhas são incríveis, mas não definem quem somos. Portanto, estou aqui para te lembrar: você já é importante, você já é incrível. Não deixe suas conquistas definirem seu valor. Abrace quem você é, busque sua melhor versão, e o sucesso seguirá.”
Duas medalhas olímpicas. Medalha em Mundial de Longa. Três recordes mundiais. Sete ouros Pan-americanos. Melhor do mundo pela FINA em 1998.
O Mundo viu Fernando Scherer em sua melhor versão, um dos maiores nadadores do Brasil e do Mundo, que agora entra no Hall da Fama da Natação Brasileira e tem seu nome eternizado para sempre.
Fernando Scherer, seja muito bem-vindo ao Hall da Fama da Natação Brasileira.
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