Por Aécio Barcelos do Amaral

Filho de Coronel do exército Brasileiro, Cyro nasceu em União da Vitória, Paraná, na fronteira com Santa Catarina e aos 10 anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro.

Preferia o judô, mas na escola conheceu uma garota que nadava e mostrava suas medalhas aos colegas. A ideia de também ganhar medalhas chamou sua atenção, e quando um Médico recomendou natação porque seu irmão mais velho sofria de asma, o esporte entrou de vez na sua vida. Sua primeira competição foi nadando a prova de 50 metros nado peito (na época se chamava de nado “clássico”).

“A derrota serve como aprendizado para o próximo desafio. Na foto publicada no Jornal dos Sports, registro da minha primeira competição de 50 metros e sendo o nado de peito o meu melhor estilo.
Eu estava muito na frente, 10 metros dos outros competidores e não imaginaria perder a prova no final. Com a minha ansiedade em vencer e aumentar a distância dos outros nadadores, respirei errado e bebi muita água, faltando 10 metros para o final da prova. Eu não conseguia respirar, me agarrei na raia divisória. Ouvia gritos, me incentivando a tocar na borda e não perder a prova, mas … Fui na raça com muita dificuldade e cheguei em 4º lugar. Que raiva de mim mesmo!
Afirmo que depois desta prova ficava apreensivo em nadar o peito e não errar novamente. Felizmente eu não desisti e deu mais do que certo a minha carreira, mas em outros estilos.
Acredite em você mais do que qualquer um!!!”

Jornal do Brasil, setembro de 1972, primeira competição.

Iniciou no Tijuca Tênis Clube, nadou pelo Lira Tênis Clube de Florianópolis e pelo Fluminense. Em 1975 foi convocado para compor a Seleção Brasileira Juvenil.

Participou dos Jogos Pan-Americanos de 1979 (San Juan, Porto rico, bronze no 4×100 livre e prata no 4×200 livre), de 1983 (Caracas, Venezuela, prata no 4×100 e 4×200 livre) e 1987 (Indianápolis, EUA, bronze no 4×100 e 4×200 livre), conquistando então seis medalhas, todas em revezamentos.

 

As medalhas dos Jogos Pan-Americanos de San Juan 1979, Caracas 1983 e Indianápolis 1987.

Também nadou os Campeonatos Mundiais FINA de Guayaquil, Equador em 1982 e de Madrid 1986, na Espanha.

Participou de dois Jogos Olímpicos, Moscou em 1980, e Los Angeles em 1984.

Mas foi em Moscou que conseguiu seu maior triunfo esportivo. A medalha de bronze do revezamento 4×200 livre.

Muito já se falou, mas não custa repetir. Aquele foi um dia raro, onde os quatro nadadores se superaram. Fizeram o que se espera de grandes esportistas… o melhor no momento mais importante.

No entanto, antes da prova o clima já estava pesado. Maus resultados nos dois primeiros dias levaram a Folha de São Paulo a escrever “É fracasso prá ninguém botar defeito….”. Mal sabiam o que ia acontecer.

Esse mesmo grupo de nadadores já tinha conseguido a prata nesta prova no Pan de Porto Rico, e fizeram um planejamento para alcançar algo mais importante. Treinaram nos Estados Unidos por quatro meses, treinos muitos mais pesados que no Brasil, com exercícios físicos e psicológicos. Mentalizavam a prova…..

No dia 23 de julho de 1980, às dez horas da manhã, horário local, haviam 14 equipes inscritas para o 4×200 livres e estavam divididas em duas séries eliminatórias. O Brasil nadou a segunda delas, e a sequência foi com Jorge (1’53”49), Marcus (1’52”76), Cyro (1’53”20) e Djan (1’53”36).

Classificaram-se para a final com o terceiro tempo (7’32”81), atrás de União Soviética e Alemanha Oriental, e a frente de Austrália, Suécia, França, Itália e Grã Bretanha, nessa ordem. Sabiam que se repetissem os tempos das eliminatórias não conseguiriam atingir o objetivo. Tinham que melhorar!

Moscou, oito da noite do mesmo dia, nadando na raia 3, foi dado o tiro de partida da final olímpica do 4×200 nado livre. Mantiveram a sequência da eliminatória, Jorge (1’52”61), Marcus (1’52”94), Cyro (1’52”35, melhorou quase um segundo em relação ao tempo das eliminatórias e 02”24 em relação ao seu tempo no 200 livre individual)  e Djan (1’51”40), fechando em terceiro lugar com 7’29”30, tempo que foi recorde Sul-Americano. União Soviética, Alemanha Oriental, Brasil, Suécia, Itália, Grã Bretanha, Austrália e França, finalizaram a prova nesta ordem de classificação.

Fora a União Soviética, mais à frente, e a França, mais atrás, pouco mais de dois segundos separam o segundo do sétimo lugar.

 

Com a medalha olímpica de Moscou

 

Urso Micha, mascote dos Jogos Olímpicos de Moscou, presente para os pais.

Veja aqui um vídeo que contem uma ótima reportagem dessa prova:

Encerrou sua carreira de atleta em 1989, e em 2002, nadando nas provas de natação Master bateu recordes mundiais dos 100 e 200 metros nado livre, categoria 40+.

Pela brilhante carreira na Natação, Cyro Marques Delgado se credencia a ser o décimo primeiro homenageado pelo Hall da Fama da Natação Brasileira.

Parque Aquático Maria Lenk, Rio de Janeiro, 8 de Abril de 2022

 

Los Angeles 1984 – Cyro, Jucá, Djan, Ronald, Jorge, Francisco e Ricardo.

Copa Latina 1983 – Portugal

Pan Americano 1987 – Indianápolis EUA (acervo pessoal de Julio Rebollal)

Pan Americano 1987 – Indianápolis EUA (acervo pessoal de Julio Rebollal)

 

Diploma “Trofeo Latinoamericano Cabeza de Palenque” recebido do Presidente do COI na época, Juan Antonio Samaranch.